2018: o glorioso ano do futebol cearense

O ano de 2018, assim como todos os outros que já se passaram, foi de grandes alegrias e torturantes tristezas para os mais variados torcedores - seus times são campeões, fazem boas campanhas, sofrem humilhações, enfrentam crises, são rebaixados e assim por diante; em suma, algo normal e cujos personagens variam a cada temporada.

Todavia, são poucas as vezes em que o futebol de um Estado do Brasil se destaca acima dos demais pelas grandes conquistas e campanhas marcantes da maior parte de suas equipes - neste artigo, como o próprio título já diz, falaremos do grande ano que o cearense, independente de qual time torça, jamais poderá esquecer, graças aos feitos heroicos e conquistas que os clubes deste Estado do Nordeste lograram em 2018.

Foto: Cristiano Andujar / Estadão Conteúdo.


NOTA: a ordem dos clubes e seus feitos e conquistas aqui retratados será em ordem cronológica.

COPA DO NORDESTE

Assim como todos os campeonatos, a Copa do Nordeste teve seu início adiantado e sofreu com problemas de datas para a realização das partidas este ano, devido à parada que seria realizada entre junho e julho em função da Copa do Mundo FIFA, na Rússia.

Evidentemente, nem tudo "são flores". O futebol cearense não começou de todo mal em 2018, mas tampouco obteve conquistas - na Copa do Nordeste, o Ceará se classificou em primeiro no Grupo D, com 13 pontos, à frente de Sampaio Corrêa-MA (9), CSA-AL (5) e Salgueiro-PE (3); nas quartas, empatou duas vezes com o CRB-AL, mas avançou pelo critério do gol fora de casa, devido ao placar de 3-3 na ida em Maceió e 0-0 em Fortaleza.

Posteriormente, na semifinal, em duas partidas disputadíssimas, o Vozão caiu perante o Bahia (adversário na Série A, mais tarde), após perder por 1-0 no Castelão e empatar sem gols na Fonte Nova.

Disputa de bola na volta da semifinal entre Bahia e Ceará. O Vozão foi eliminado, mas não sem dar muito trabalho para o tricolor baiano. (Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia)


Arthur foi um dos artilheiros da competição, com 5 gols, mesmo número de tentos marcados por Yago, do Vitória-BA, no torneio.

Quanto ao outro cearense classificado para a Copa do Nordeste, o Ferroviário, sua campanha não foi boa: terminou em último, com apenas 1 ponto, no Grupo B, conquistado contra o Globo-RN em um empate sem gols em casa - este foi o 3º, com 7 pontos, e os classificados, ambos com 13 pontos, foram Vitória-BA e ABC-RN (o rubro-negro baiano foi o 1º por ter feito mais gols (17 contra 15), apesar do mesmo saldo positivo de 7 do alvinegro potiguar).

Não obstante, pode-se dizer que o mau desempenho do Ferrão no torneio regional foi ofuscado pela sua posterior conquista marcante.

COPA DO BRASIL

Nesse ínterim, a mesma dupla que abordamos antes também participou, mas desta vez indo mais longe, proporcionalmente ao tamanho que esta competição tem - mais uma vez, o excesso de partidas e escassez de datas hábeis para disputá-las se demonstrou cansativo e prejudicial não só para elas, mas para outras agremiações nordestinas.

De início, o Floresta, classificado pelo título da Copa Fares Lopes de 2017 e xodó dos fãs de futebol alternativo (ao menos à época), foi eliminado, em casa, pelo Botafogo da Paraíba graças à derrota por 2-0; ao passo em que o Ferroviário avançou ao vencer o Confiança-SE por 2-1 e o Ceará também, derrotando em Santa Catarina o Brusque por 1-0.

Sem maiores dificuldades, o Vozão avançou ao ganhar do Londrina, no Paraná, por 2-1, todavia, o Ferrão começou a demonstrar a grande surpresa que seria no torneio - empatando com o Sport na Ilha do Retiro em 3-3, triunfou nos pênaltis por 4-3, isso após estar perdendo por nada mais, nada menos que 3-0 até os 10 (dez) minutos finais, quando balançou as redes ininterruptamente até deixar o placar igual!

O Sport tinha a classificação para a próxima fase praticamente certa até os dez minutos finais de partida, quando o Ferroviário marcou três gols rapidamente e, posteriormente, triunfou na disputa de pênaltis. (Foto: Aldo Carneiro / Pernambuco Press)


Na 3ª (terceira) fase, o Ferroviário tornou-se o único representante do Ceará a prosseguir no torneio, pois o time homônimo, após dois empates de 0-0 (em Curitiba) e 1-1 (em Fortaleza) ante o Atlético-PR, perdeu nos pênaltis por 6-5, enquanto o Tubarão também teve o placar igual de 1-1 em casa, mas venceu na volta por 1-0 o Vila Nova em Goiânia.

Apesar de tudo, o Ferrão não foi páreo para o Atlético-MG na quarta fase: após perder por 4-0 no Independência, em Belo Horizonte, chegou a abrir 2-0 no primeiro tempo da partida de volta, no Castelão, mas sofreu o empate na etapa final e deu adeus à competição de cabeça erguida e podendo orgulhar-se de ter chegado longe (mas fê-lo mais ainda logo em seguida).

SÉRIE D

Se na Copa do Brasil as equipes cearenses chegaram relativamente longe, mas não conseguiram maiores glórias, no quarto escalão do futebol nacional as conquistas do Estado se iniciaram.

Na primeira fase, o Guarani de Juazeiro, classificado pelo 4º lugar no estadual de 2017, ficou com a lanterna do Grupo 6, com míseros 3 pontos (3 empates e 3 derrotas), tendo marcado 8 gols e sofrido 14 (saldo negativo de 6). Por sua vez, o Ferroviário terminou em primeiro no Grupo 4 com 10 pontos, conquistados graças à duas vitórias e quatro empates (e nenhuma derrota), seguido do Cordino-MA (9 pontos), 4 de Julho-PI (6 pontos) e Interporto-TO (5 pontos).

Vice-campeão cearense em 2017, o Ferrão enfrentou na etapa seguinte o vice-líder de seu grupo, o Cordino-MA - em duas partidas intensas, conseguiu avançar graças a uma suada vitória por 1-0 em casa, no jogo de volta, após mais um empate em 3-3 (igual ao da Copa do Brasil, contra o Sport) na ida. Em seguida, empatou outra vez, 1-1 em casa, contra o Altos, porém venceu na volta por 4-2, no Piauí.

Como não poderia deixar de ser no ano desta equipe, o acesso para a Série C de 2019 foi alcançado também de maneira dramática - a vitória acirrada por 3-2 no jogo de ida fazia com que apenas um empate precisasse ser obtido e administrado para que não houvessem maiores problemas e avançar tanto para as semifinais, quanto para garantir a vaga no terceiro escalão nacional no seguinte, porém, não foi o que ocorreu: o Campinense-PB fez 1-0 e, não conseguindo reverter o resultado supracitado, forçou a decisão de pênaltis, para desespero de qualquer fã de futebol (mesmo que não seja o seu time jogando); vencendo por 5-4, graças à conversão de todas as cobranças em gols e um único erro por parte do adversário, a equipe cearense então subiu de divisão.

Jogadores do Ferroviário comemoram o acesso para a Série C de 2019 - este foi apenas mais um capítulo da trajetória dramática (e impressionante) do time no ano de 2018 em todas as competições que disputou. (Foto: Pedro Chaves / FCF)

O prosseguimento da campanha não poderia ser diferente: nas semifinais, vitória sobre o São José por 3-1 no Castelão e subsequente (e tensa até o final) derrota por 2-1 em Porto Alegre, indo para a final graças à vantagem estabelecida na ida.

Na final, enfrentou o rival daquele que eliminou nas quartas: o Treze, também de Campina Grande, na Paraíba - a goleada de 3-0 aplicada na partida de ida fez com que o time colocasse uma mão na taça, se confirmando posteriormente na volta, apesar da derrota por 1-0 no estádio Amigão (o único gol da partida foi de pênalti, marcado por Marcelinho Paraíba, um dos Highlanders do futebol brasileiro). Desta forma, o Ferroviário encerrou 2018 em grande estilo, ao conquistar o seu primeiro título nacional, o acesso para a terceira divisão do ano seguinte e podendo se orgulhar de ter ido tão longe na Copa do Brasil e de seus feitos no ano, que teve mais altos do que baixos para a equipe.

Elenco do Ferroviário comemora a conquista da Série D, obtida de forma dramática e digna de respeito - a vitória acachapante na ida da final fez com que o time não tivesse preocupações maiores do que apenas administrar a vantagem na volta. (Foto: Lucas Ribeiro / CBF)


SÉRIE B

Se o Ferroviário foi campeão da Série D com muitos percalços e dificuldade, o mesmo não se pode dizer do Fortaleza: o Tricolor do Pici conquistou a Série B com autoridade e superioridade perante as demais equipes do campeonato - talvez não haja prova maior do que o fato de que foi líder por 36 das 38 rodadas do torneio (apenas o Oeste-SP, na 1ª rodada e o Vila Nova-GO, na 4ª rodada, tiraram o posto da equipe cearense)! Certamente, pode-se creditar o grande sucesso ao técnico do time, o ex-goleiro e ídolo do São Paulo Rogério Ceni, administrando o grande elenco que tinha em mãos para garantir 21 (vinte e uma) importantes vitórias.

O Fortaleza foi campeão da Série B de 2018 sem dar qualquer margem para contestações e dúvidas, mesmo quando não ia tão bem e perdia. Como de costume, porém, pode sofrer desmanches prejudiciais no ano que virá. (Foto: Reprodução / Facebook)

Além disso, vale ressaltar o papel de sua torcida: dos 10 (dez) jogos com os maiores públicos da Série B de 2018, 9 (nove) foram de mando do time no Castelão - o recorde foi estabelecido em 2 (dois) jogos: 57.223 espectadores nas vitórias contra o Paysandu-PA por 1-0 (32ª rodada, 20 de novembro) e o Juventude-RS por 4-1 (37ª rodada, 15 de novembro) - no total, a média de público foi de 28.702 por jogo, simplesmente mais do que o triplo do número referente ao segundo colocado nessa lista, o CRB-AL, com 9.424 pessoas presentes por partida!

Grande destaque, também, pode ser dado para Gustavo Henrique, artilheiro do time na competição, com 14 (catorze) gols e terceiro na lista dos maiores goleadores (o primeiro foi outro Highlander do futebol brasileiro; Dagoberto, com 17 (dezessete) tentos marcados a favor do Londrina-PR).

Junto do CSA-AL, o Fortaleza subiu para a Série A de 2019 e substituirá Sport-PE e Vitória-BA, rebaixados, mantendo o Nordeste com 4 (quatro) representantes na elite do futebol brasileiro - vale dizer, contudo, que o principal referente a isso é o fato de que será protagonista neste torneio junto de seu maior rival, o que não ocorria desde 1993. O Tricolor do Pici, por fim, retornou para o primeiro escalão do esporte no país após 13 (treze) anos, conquistando o seu primeiro título nacional, após ser rebaixado em 2006 e amargar oito anos na Série C nesse ínterim.

SÉRIE A

Cotado para ser mais um time "ioiô", isto é, ficar apenas um ano na Série A e cair novamente para a B, o Ceará surpreendeu a todos por ter feito uma arrancada considerável que, não somente lhe garantiu o seu lugar no primeiro escalão do futebol brasileiro em 2019, mas também possibilitou ter flertado com uma vaga na Copa Sul-Americana: apesar de não ter conseguido, esteve a apenas uma vitória de tê-lo feito.

A campanha do Vozão não começou bem - à 9ª rodada, o time tinha apenas 3 (três) de 27 (vinte e sete) pontos disputados e seu rebaixamento já era, conforme supracitado, tido como certo e esperado; tal drama se arrastou, principalmente, desta até a 16ª rodada, período em que o alvinegro cearense foi o lanterna da competição.

Porém, com o notório Lisca "Doido" assumindo o comando da equipe, após a demissão de Jorginho na rodada 9, o Ceará começou, lentamente,  a conquistar pontos importantes para a sua permanência, o principal objetivo até os jogos finais ("roubando" alguns deles em confrontos contra os times da parte superior da tabela, diga-se de passagem).

Mais uma vez, Lisca "Doido" salvou uma equipe sob seu comando do rebaixamento e quase conseguiu feitos ainda maiores nesse processo. (Foto: Lucas Moraes / Ceará SC)

"Salvando" o time de cair para a Série C em 2015, Lisca "Doido" fez o mesmo ao conseguir 10 (dez) vitórias e 10 (dez) empates nos 28 (vinte e oito) jogos comandando o Vozão desde então - a permanência na Série A foi garantida graças ao empate em 2-2 com o Atlético-PR em Curitiba e uma combinação favorável de resultados na 37ª rodada. Na 38ª e última, com 43 pontos, enfrentou um ainda ameaçado Vasco da Gama-RJ: em um empate sem gols, ambos ficaram na elite do futebol brasileiro em 2019, respectivamente em 15º e 16º; tivesse vencido, o Vozão teria ido a 46 pontos e garantido vaga na Copa Sul-Americana.

De qualquer forma, tal fato mostra como até os times dos quais menos se espera podem alcançar grandes feitos - um outro elemento para essa arrancada e sucesso do Ceará foi o apoio de sua torcida, que esteve presente em peso no Castelão, assim como o seu rival Fortaleza, na Série B, em especial nas rodadas intermediárias e finais: como resultado, a já mencionada partida contra o Vasco da Gama-RJ foi a sexta com mais espectadores na Série A, graças ao comparecimento de 57.223 pessoas! Além disso, o Vozão teve a quinta maior média de público da edição de 2018 do torneio, com um índice de 28.079 por jogo.

Para os torcedores de equipes cearenses, mesmo que o ano de 2018 tenha tido seus problemas e percalços que impactaram as suas vidas, assim como qualquer outro, certamente será inesquecível no que tange aos seus times de coração que, cada um, conseguiram alcançar e realizar grandes resultados e feitos - sendo assim, caso as agremiações não sofram com problemas administrativos e financeiros agudos e não sejam tão prejudicadas com o desmanche de seus elencos nesse meio-tempo, só podemos esperar que o Ceará estará muito bem representado e dará bastante trabalho para as equipes Brasil afora na Copa do Nordeste (com a dupla Ceará e Fortaleza) e nos torneios nacionais.


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